segunda-feira, 3 de maio de 2010

Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também pode crescer com os toques suaves na alma...

Sexta-feira duas amigas vieram em casa e nós passamos umas duas horas conversando. São professoras, como eu, mas da área de Humanas, gosto bastante delas, são mulheres especiais.
Sábado, no GEFA, montamos o painel para o Dia das Mães. Gostei de como todos fizemos juntos e ficou lindo.
Depois fomos para São Paulo, aniversário do meu cunhado. Tudo estava bem gostoso. Minha concunhada (designação esquisita, prefiro "cunhada") sempre faz tudo com capricho (ô rasgação de seda...), mas sério, tudo com dedicação.
Hoje fomos almoçar com meus pais. Fizeram lasanha, LASANHA!! Estava deliciosa (acabo de descobrir que lasanha se escreve com s, achava que era com z).
Agora há pouco abri meu e-mail e baixei uma apresentação chamada “Escutatória”, vale a pena ler – em silêncio:

Escutatória

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade...
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor...
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos... Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência... E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar...
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
(Rubem Alves)

E terminava com essa frase:
Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também pode crescer com os toques suaves na alma...

2 comentários:

Thaís disse...

Nossa, Profª Fabiana...
Lindo o texto ! Gostei mesmo... e ainda fiz uma reflexão: às vezes a gente para pra ficar pensando sobre como seria melhor a fala do outro se complementássemos com isso ou aquilo e nos perdemos na linha de racioncínio do outro, que pode ter sido bem melhor do que os nossos complementos...
Verdade. Já que nós, quase todos, aprendemos apenas nos erros, também podemos aprender ouvindo, sentido a fala de alguém... Não sei mesmo se a interpretação correta desta última frase do texto que colocou é essa mesmo, mas isso é um ensinamento que eu tirei e agora levo para a vida.
Um beijo,
Thaís Chagas - Bandeirante.

Daniel Diax disse...

Que frase bonita... parabéns pela garra Fá.