sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Câncer não deve nem ser pronunciado?

Aqui no hospital eu divido o quarto com mais uma pessoa e seu acompanhante, o que dá oportunidade de aprender um pouco mais sobre o comportamento das pessoas em momentos como esse.
Desta vez me impressionou a preocupação em se “esconder” o câncer dos familiares mais fragilizados. Houve até desentendimentos na família.
O pai da minha acompanhante (ela acabou de ter alta)é um senhor de 77 anos, que “perdeu” a esposa devido a um câncer de pulmão há dez anos.
As filhas não querem que ele se case novamente... mas isso é outro assunto.
Então, quem estava com minha colega era sua irmã. Elas decidiram não contar para o pai que minha colega está com câncer de mama. Na verdade não sei se foi mesmo uma decisão conjunta ou se a irmã decidiu isso por elas.
Mas o fato é que ele esteve aqui com outra filha e o marido dela, que fazia perguntas sobre a cirurgia e o “tratamento”. A irmã se irritou com a conversa e tirou o pai do quarto, pois ele já estava desconfiando.
Depois minha colega estava sozinha comigo e disse que se o pai dela perguntar, ela tinha orientado que contassem.
Eu fico pensando que é uma oportunidade de crescimento para o pai dela também, talvez não aconteça outro momento tão importante quanto esse que possa trazer tanto crescimento. Acho que ele está sendo privado dessa oportunidade e também que está sendo subestimado, pois talvez venha a ser a pessoa mais forte nessa hora.
Não é um momento que se passa porque se quer, se escolhemos isso em algum momento, não foi durante essa vida. Então, todos ao nosso redor estão envolvidos. O câncer em um familiar é uma prova para todos. Quando fico com pena do meu filho, por ter que passar por essa experiência estressante, que dá medo, que dá raiva, que nos separa, desde os seis anos de idade, eu penso nisso, que o que acontece a mãe dele é uma experiência para ele também, ele também tinha que passar por isso e com certeza é para um Bem maior, que só no futuro nós entenderemos.
Eu também tive dificuldades para contar aos meus pais, mas com o tempo eu percebi o quanto meu pai e minha mãe são fortes e o quanto podem me ajudar estando a par de tudo. Eu poderia ter sido bem mais clara com eles desde o inicio, mas eu ainda acreditava, lá no fundo, que câncer não deve nem ser pronunciado. Eu estava errada.

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